TEATRO EXPERIMENTAL DE ALTA FLORESTA E CELEIRO DAS ANTAS


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Relatório da experiência de viagem à Alta Floresta

Um dos aspectos mais significativos da nossa viagem foi participar da rotina do grupo, isso nos fez sentir acompanhando o trabalho real deles, sem aqueles climas festivos que temos o hábito de imprimir em datas especiais, o que diga-se de passagem, não diminuiu em nada o entusiasmo, a descontração e a  importância do nosso encontro.

Logo na sexta-feira a tarde, quando chegamos ao aeroporto, já podia se perceber como seria quente o nosso fim de semana. Ainda no aeroporto fomos recebidos pelo Gean e pelo Maycon, que nos levaram direto para o hotel. Quando nos hospedamos, foi impossível não sairmos a busca de uma cerveja estupidamente gelada, fomos encontrar uma no quiosque da Dona Dalva, uma senhora muito simpática e gentil. Foi ela quem nos serviu a cerveja de boas vindas, estupidamente gelada.

Andar pelas ruas de Alta Floresta e não remeter a experiência de viver em uma cidade satélite de Brasília é quase impossível. As ruas planejadas, os espaços urbanos projetados, buscando uma lógica de ocupação espacial. Algumas construções aparentam  ter caráter de obras permanente, outras parecem ser provisórias, e tem aquelas que misturam o permanente e o provisório, e é até difícil de entender. Na dúvida, é melhor classificarmos como arquitetura moderna. Mas uma coisa parece ser padrão nesse tipo de cidade projetada: quando se anda pelas ruas não corremos o risco de encontrarmos com algo verdadeiramente surpreendente, um antigo casarão, aquela escultura de tantos anos ou uma praça resultado de uma ocupação de um espaço comum, nada imprevisto, tudo pensado, projetado. Nesses aspectos, as nossas cidades se irmanam. Andávamos por uma cidade nova, mas muito familiar aos nossos olhos.

A noite de sexta-feira fomos levados a escola Ludovico da Riva Neto, onde foi feito o lançamento do trabalho do ponto cultura do TEAF. O pátio da escola foi transformado em um auditório com direito a cadeiras, palco e até projetor de vídeo. No lançamento, falaram a secretária de cultura da cidade, Elisa Gomes, a diretora da escola, Professora Maria Helena e o artista plástico Clevis de Almeida. Logo em seguida foi apresentada a proposta do trabalho do ponto para o ano. Após a apresentação do vídeo do resultado dos trabalhos do ano passado, fui convidado a fazer uma fala sobre o Porque fazer teatro, improvisei uma fala sobre o tema A livre história da origem do teatro.

Foi muito bom ver a forma como o Grupo de Teatro Experimental consegue mobilizar as pessoas em volta do seu trabalho, dando um caráter formal sem ser burocrático ou oficialista, agregando valores e informações às suas atividades a partir do envolvimento das pessoas da comunidade e dos profissionais que se acercam do trabalho do Grupo.

O dia não poderia terminar de forma diferente. Fomos jantar, tomar uma boa rodada de cerveja e aproveitar para encontrarmos os outros participantes do grupo que ainda não tínhamos visto.



2º dia:
Logo pela manhã, saímos numa excursão pela cidade. Primeiro ponto de parada foi o Museu de História Natural, muito bem estruturado, bem montado e coordenado por Jesus, não o filho do homem, mas o Geólogo Doutor pesquisador em Palenteologia Jesus da Silva Paixão. Ele fez um passeio pelo museu expondo as curiosidades e novidades de descobertas da arqueologia local. Surpreendente saber que estávamos praticamente cercados por importantes sítios arqueológicos.

Mais um aspecto a ser considerado: as escolhas dos locais onde se constrói as cidades nunca é ao acaso, uma cidade não se constrói apenas movida pela vaidade humana, sempre tem razões que em um primeiro momento nossas razões desconhecem, mas quem defini o local, não as desconsideram. Alta Floresta fica dentro da floresta amazônica, perto de importantes sítios arqueológicos. A sua volta temos a história de nossos antepassados registrada em pedras, construída em cerâmicas, ocupando espaços dentro da mata.

Saímos do museu e fomos fazer um passeio pela cidade, rumo ao bairro Vila Nova, habitado basicamente por ex-garimpeiros e trabalhadores do campo. Uma outra grande surpresa para nós que viemos de uma cidade projetada, foi encontrar nesse bairro características muito semelhantes com as nossas cidades vizinhas de Brasília - que foram construídas para abrigar parte dos operários que  participaram da construção da cidade - os conjuntos habitacionais  construídos de madeira. Uma estética de ocupação provisoriamente definitiva. Residências erguidas de forma provisória, mas que lá se vão para mais de trinta anos. Andar pelas ruas daquele bairro era como caminhar por um cenário de uma história já vivida, uma história familiar que aponta para uma data final. A casa de madeira, como as que foram feitas no início de Brasília e hoje são muito poucas, são raras peças de museu, em Alta floresta você transita por muitas delas. Impossível não sacar a máquina fotográfica e sair capturando, sequestrando aquelas imagens para resguardá-las do efeito do tempo.

De tarde
A tarde foi reservada para um pouco de discussão intelectual. Como já estava previsto no plano de trabalho do grupo, eles iriam discutir os temas da nossa próxima videoconferência: A Rigorosidade, a Radicalidade e a Ruptura no trabalho de grupo. A discussão se estendeu por toda a tarde, sem sairmos do primeiro conceito. A dinâmica adotada era, cada conceito ser apresentado por um membro do TEAF, após a explanação teórica partiríamos para o debate. Mal o Ronaldo Adriano terminou a sua explanação sobre Rigorosidade, a discussão foi instaurada, ocupando toda a nossa tarde. Foi uma boa discussão, não chegamos a nenhum consenso, muito pelo contrário, fizemos foi ampliar nossas dúvidas e incertezas, bem aos moldes das discussões nas antigas academias de filosofia. Acabamos adiando a discussão dos outros dois temas para a tarde do dia seguinte.

De noite
A noite veio trazendo a força da Lua Perigeu, popularmente conhecida como a Super Lua. É quando a lua fica mais perto da terra, esse fenômeno ocorre no céu a cada 18 anos. E nós fomos levados para o Pesque Pague Paraíso. Sim caro leitor, depois que fui à Alta Floresta posso dizer que já pisei no Paraíso, que paraíso! Com tudo que sonhamos ter em um paraíso: paisagens bucólicas; muita água; uma belíssima arquitetura que avança por sobre os tanques d’água, onde são criados belos peixes; um bar varanda bem arejado e espaçoso todo de madeira,  onde se tem acesso a uma balsa, que naquela noite, para o nosso deleite, sob a luz da grande lua, foi transformada em um teatro que abrigou a encenação do Grupo para o poema O operário em construção, de Vinícius de Moraes. Depois de todo esse deleite foi oferecido um jantar para os convidados, uma delícia de tucunaré assado, como entrada isca de peixe frito, tudo regado a deliciosa cerveja de Alta Floresta. Um verdadeiro paraíso. Sinto muito, amigos, a conversa sobre teatro foi adiada para o dia seguinte, acumulada para a outra discussão que já estava prevista. Falei no início que era um encontro planejado, informal, mais informal impossível! Abrimos mão da conversa para usufruirmos do Paraíso.

3º dia
De manhã
Acordamos sem a mínima ressaca, logo no café da manhã concluímos: deve ser sempre assim, quando se bebe no paraíso.
Era nove horas da manhã e a agenda já estava rolando. Na sede do Ponto de Cultura que fica ao lado da feira permanente, tipo mercado central, os atores já estavam preparados para tomar a feira de assalto com seus experimentos cênicos. Foram quatro pequenas intervenções, que logo que concluídas, partimos para a compra. E, fomos direto preparar o almoço do dia. Um almoço feito a várias mãos. Cardápio? – Galinhada, com salada verde de entrada, para sobremesa torta de chocolate com sorvete de flocos e cobertura de chocolate meio amargo. Tudo feito por nós, na acolhedora casa do Ronaldo Adriano e da Mirian Marques. Tudo regado a deliciosa cerveja gelada.

Vejam só, com tudo isso conseguimos manter a agenda do dia. Era quatro horas da tarde e estávamos todos, ou quase todos, na sede do grupo para darmos início a mais uma rodada de discussão. Barriga cheia, cabeça feita, vamos às discussões intelectuais.

Ah! Um detalhe importante, durante o almoço conversamos muito sobre as nossas formas de organização e produção dos grupos. Como cada grupo lida com o dinheiro, cachês e etc e tal. Foi uma conversa muito proveitosa.

De volta as discussões. Maycon expos sobre  o conceito de Radicalidade  e Fernando expos sobre Ruptura, e a discussão rolou o resto da tarde. No início da noite entramos na análise das apresentações feitas pelo Grupo na noite anterior lá no Paraíso e de manhã na feira. Falamos sobre nossas angústias, dúvidas, incertezas, sobre perspectivas e possibilidades de estratégias para se chegar a novos  trabalhos. Algumas questões ficaram pairando dentro dos nossos corações e mentes: Que modelos estamos buscando para o nosso fazer teatral? Quais caminhos percorremos para chegar até aqui, e o que ele deixou verdadeiramente marcado nas histórias de nossas vidas de fazedores de teatro? Que identidade é essa, que de forma subterrânea e muitas vezes inconsciente, vem moldando o nosso fazer artístico?  Que teatro é esse que queremos fazer, e qual é possível ser feito dentro dos limites da nossa realidade cotidiana?

Para concluir, foi lançado a proposta de utilizar a contação de história, nas ruas praças e feiras, como forma de iniciar um processo de teatro de rua e quem sabe gerar uma nova montagem.

E quanto às outras reflexões feitas nesses três dias de visita? Bem, vamos tentar expor nos nossos próximos relatos, para isso, temos esses próximos quatro meses para o árduo e divertido exercício da escrita.

Pausa para uma cerveja e voltamos já.

Grupo de Teatro Celeiro das Antas
José Regino e Micheli Santini

Obs. - O encontro presencial em Alta Floresta aconteceu nos dias 18, 19 e 20 de março/2011.















sexta-feira, 1 de abril de 2011

Atividades marcaram o primeiro encontro presencial entre Teatro Experimental e Celeiro das Antas

Nos 18, 19 e 20 de março o Teatro Experimental de Alta Floresta recebeu os integrantes do Celeiro das Antas José Regino e Michele Santini para o primeiro encontro presencial do projeto  'Florestas e Antas: experiências teatrais - em busca de um teatro possível' que esta sendo executado pelos dois grupos. O referido projeto foi um dos contemplados do Programa Rumos Itaú Cultural Teatro do Instituto Itaú Cultural e tem como objetivo intercambiar as estéticas e as formas de manutenção, para a definição de meios de produção artística.

Já na sexta-feira participaram da aula inaugural do Ponto de Cultura Teatro Experimental na escola Ludovico da Riva Neto. Além de exposição dos resultados alcançados nos trabalhos desenvolvidos com vinte alunos no Vila Nova no ano de 2010, aconteceu  ainda a apresentação dos cursos e oficinas programadas para este ano, além de uma palestra 'Fazer Teatro' que foi ministrada pelo José Regino .  

No sábado pela manhã, um roteiro cultural pela cidade de Alta Floresta foi uma das atividades desenvolvidas cuja proposta foi o de mostrar os nossos convidados um pouco sobre a história de Alta Floresta, sobretudo para que pudessem entender um pouco onde vivemos e o que produzimos.

A tarde, no Centro Cultural de Alta Floresta, o 'Seminário de Estudos Teatrais' discutiu parte dos princípios desenvolvidos pelo TEAF em seus trabalhos - Rigorosidade, Radicalidade e Ruptura. Foi um momento de conversa e debate que julgamos muito proveitoso e de suma importância para o projeto.

À noite, sob a incidência da luz da Super Lua Cheia, foi apresentada a performance 'O Operário em Construção' por integrantes do Teatro Experimental. Na sequência um jantar com outros convidados fechou a noite do segundo dia, marcada pela comida boa e de muito papo.

No domingo pela manhã, o Teatro Experimental desenvolveu uma intervenção cênica 'Poesia nas Alturas' na Feira Municipal do Produtor (feira Livre). Dali partimos para a casa de Ronaldo Adriano, onde  todos meteram a mão na massa, aliás a massa, do bolo, ficou à cargo do Zé Regino. Durante todo o almoço e pelo resto da tarde mais conversas entre os integrantes dos dois grupos permitiram conhecer um pouco mais de ambos os lados.

Já no início da noite, de volta ao Centro Cultural de Alta Floresta, a discussão sobre Rigorosidade e Ruptura subsidiaram novos confrontos de idéias e pensamentos a cerca de nossos trabalhos. Na sequência, uma avaliação fechou as atividades do primeiro  encontro presencial.
Crédito: Maycon Rodrigues

Crédito: Elenor Cecon Júnior

Crédito: Elenor Cecon Júnior

Crédito: Elenor Cecon Júnior

Crédito: Elenor Cecon Júnior

Crédito: Elenor Cecon Júnior

Crédito: Elenor Cecon Júnior

Crédito: Elenor Cecon Júnior
Crédito: Ronaldo Adriano Freitas

Crédito: Elenor Cecon Júnior

Crédito: Ronaldo Adriano Freitas

Crédito: Ronaldo Adriano Freitas

Crédito: Fernando Nunes

Crédito: Gean Nunes

Crédito: Maycon Rodrigues

Crédito: Maycon Rodrigues

Crédito: Elenor Cecon Júnior